Programa Ecowomen

Quem são as catadoras e catadores de materiais recicláveis?

Nós, catadoras e catadores de rua, somos portadores de lutas. Somos catadoras de rua, limpamos as cidades, não deixamos que o material reciclável vá para os lixões, rios e mares. Nosso espaço é a rua. A rua é liberdade, é vento, é axé. Porém, é preciso ter atenção quanto às organizações: elas libertam ou pressionam? 

Ao classificarem os catadores de rua como “avulsos”, nossa existência é negada. Se para fazer parte de uma cooperativa, é necessário vir da rua, por que tratar o ser humano como objeto e não como agente de transformação? Queremos autonomia na rua, já que é ela que inspira, nos dá guarida e nos ajuda a sobreviver. É assim que quando conversamos com os porteiros, com os comerciantes, com as pessoas, estamos exercendo cidadania.

Porém, como nem tudo são flores, a rua também é violência para aqueles que são excluídos e oprimidos, nos batem na força, na cozinha, na rua. Vamos organizar nossa luta contra toda forma de opressão; contra os atravessadores, que nos exploram e praticam trabalho escravo contemporâneo; contra os governos dessa classe dominante, que nos enrolam nas mesas de negociação; contra falsas lideranças, que nos chamam de avulsos e nos classificam como objeto; contra o machismo, que nos violenta em todos os espaços. Nós somos protagonistas da nossa própria luta e não objeto dela. 

É por meio da catação de materiais recicláveis e resíduos gerados pelo consumo que sobrevivemos e levamos o alimento para nossa mesa. Somos uma abundância da sociedade. Saímos todos os dias, às quatro horas da manhã, com os nossos carrinhos e sacos para que, às dez da manhã, tenhamos o pão para tomar o café e, ao meio dia, tenhamos a farofa para matar a fome. O nosso processo de trabalho consite em sair passando em cada lixeira e ir separando o material seco do molhado, ou seja, tirando do lixo o que presta como, por exemplo, garrafas plásticas, alumínio, cobre, ferro, PVC, além de panelas, papelão e outros materiais.

Ser catadora e catador de materiais recicláveis é saber que todos os dias teremos comida para matar a nossa fome, porque a fome não espera. Ser catadora é saber que vamos ter dinheiro para pagar nossas dívidas. Ser catadora é andar de cabeça erguida e dizer que tenho como custear minhas despesas fixas. Porém, a sociedade nos oprime e enxerga os catadores de materiais recicláveis como “cata lixo”, nos chamando de “fedorentos”, “mendigos” e “drogados”.

A sociedade nos enterra sem, ao menos, sentar para nos escutar ou dar a oportunidade de, no mínimo, saber o nosso nome. Desse modo, ainda que tentem nos tornar invisíveis e vulneráveis o tempo todo, somos nós, catadoras e catadores de materiais recicláveis, que limpamos as cidades, os estados, o país, o mundo. Além de uma classe de trabalhadores – agentes ambientais -, somos mães e pais que precisam sobreviver e criar nossa família, filhos e filhas.

Vocês sabem qual a maneira que temos de levar o material para o opressor, que explora nossa mão de obra? 

A única coisa que precisamos é sermos valorizadas (os) como uma categoria de trabalhadores e ter direito a exercer nosso papel de cidadãos. Venceremos! Há pessoas que amam o poder. Há pessoa que tem o poder de amar. Viva as catadoras e catadores de rua. Somos resistência! Isodélia presente sempre! 

Autor